Estudo baiano quer demonstrar como homeopatia atua contra dengue

14 abril, 2013


Imagine a possibilidade de ficar livre do mal-estar, da prostração, febre, dores de cabeça e no corpo, náusea, sangramentos, com o uso de quatro gotinhas de medicação, três vezes ao dia. Sonho? Não. Essa é a meta de um estudo que pretende usar a homeopatia para prevenir e tratar os sintomas da dengue. 
O trabalho terá início em maio, na Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP), durante a realização do primeiro curso de homeopatia oferecido por uma faculdade médica. 


De acordo com a idealizadora da proposta, a médica Mônica Oliveira, a concepção do estudo não é nova, foi usada pela primeira vez em Cuba, em 2003. 



No Brasil, ações preventivas e curativas usando a homeopatia são realizadas desde 2007, em cidades como Macaé (RJ), Rio de Janeiro (capital), Iporã (GO), São José do Rio Preto (SP), Viçosa (MG), Natal(RN), Vitória (ES), Goiânia (GO), que atualmente está realizando pesquisas com o uso. “Esse projeto pretende demonstrar em larga escala o que já vemos na prática clínica que o uso de determinadas substâncias homeopáticas reduz os danos causados pela dengue”, explica a médica clínica, que há 27 anos atua como homeopata.



Mônica Oliveira ressalta que em Macaé foram distribuídas 156 mil doses que impactaram numa redução de 60% da incidência de dengue. Em Iporã, segundo Mônica, o estudo permitiu que os 1.095 casos da dengue fossem reduzidos para apenas 10 casos.



Ela lembra que, na Bahia, é possível que a fórmula utilizada nessas cidades sofra modificações, pois em cada situação há uma prevalência de sintomas e características que precisam se adequar ao perfil local da doença. Na fórmula usada no Rio de Janeiro, aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e produzida pelo laboratório Almeida Prado, foram usados Eupatorium, China Oficinallis, Phosphorus e Rhus Tox.



“Aqui, talvez precisássemos usar o Ledum Palustre, que trata dores articulares”, especula a médica. Mônica Oliveira destaca ainda que os resultados da pesquisa vão ajudar a desmitificar o tratamento homeopático, que ainda é visto com ressalvas pela população e pelos poderes públicos. 



“Não podemos assegurar o sucesso da pesquisa, mas queremos contribuir com uma solução que seja eficaz e tenha custo reduzido para a população”, faz questão de ressaltar.  Na Bahia, a pesquisa vai concentrar o tratamento no Ambulatório Docente Assistencial da Bahiana (Adab), que fica na Avenida D. João VI, em Brotas.



“Atendimentos também serão realizados no Posto de Pau da Lima, que funciona com o programa de Saúde da Família”, completa. Para participar da pesquisa ou fazer uso da homeopatia na rede pública, o interessado deve se dirigir a um posto de saúde e solicitar o atendimento homeopático. O encaminhamento até o Adab é feito dessa forma.



Efeito semelhante 
Criada pelo médico alemão Christian Friedrich Samuel Hahnemann, no século XIX, a homeopatia vai buscar nos ensinamentos do grego Hipócrates, considerado o pai da medicina, os princípios para garantir o tratamento e a cura. Para tratar um paciente, a homeopatia usa medicações que possuam os mesmos efeitos que o sintoma da doença, permitindo que o semelhante cure o semelhante. 



Os tratamentos dentro dessa linha são individualizados e a pessoa é avaliada não só pelas doenças, mas também por suas emoções.



Desde 2006, O Sistema Único de Saúde, através da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (Portaria GM nº 971, de 3 de maio de 2006) apoia a implementação de protocolos para a ‘avaliação de efetividade, resolubilidade, eficácia e efetividade da ação da homeopatia nas endemias e epidemias’. 



No entanto, quando o assunto é dengue e homeopatia, o Ministério da Saúde (MS) diz que qualquer tratamento deve ser aplicado apenas como complementar. A orientação do MS é que a população não descuide da eliminação dos criadouros preferenciais do mosquito transmissor e que procure os postos de saúde quando houver suspeita da doença.



A própria prefeitura de Macaé ainda não tem uma posição definitiva em relação ao tratamento, que foi usado no município de 2006 até o ano passado. De acordo com a porta-voz Juliana Carvalho, estudos estão sendo realizados pela atual gestão com o intuito de verificar a validade da terapêutica. “Durante todo o tempo que tratamos a dengue no município, além da homeopatia, outros cuidados foram tomados, por isso não é possível creditar os resultados apenas a um fator”, pontua a representante do município.



A mesma postura cuidadosa é tomada pelos órgãos de saúde do estado que, embora conheçam os estudos nessa área, ainda não participam efetivamente de testes ou estudos. No caso da pesquisa que será desenvolvida pela EBMSP, a prefeitura de Salvador foi convidada a firmar parceria.



A diretora de Vigilância Epidemiológica do Estado, Maria Aparecida Araújo afirma ter conhecimento das iniciativas, mas desconhece resultados que apontem para esse caminho. “Estamos atentos a tudo que acene com o enfrentamento da doença, mas ainda não existem estudos epidemiológicos que comprovem a validade dessa terapia”, finaliza.



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