Morte ou tratamento de cães infectados com calazar. Esse foi o principal assunto discutido durante toda a semana passada, no Congresso Mundial de Leishmaniose, em Porto de Galinhas, Pernambuco.
Atualmente, portaria interministerial determina a eutanásia desses animais.Para Marco Ciampi, presidente da ONG Arca Brasil, não há por que a sociedade aceitar a eutanásia de animais infectados, sem antes pensar no tratamento.
Segundo ele, o número de cães infectados tem aumentado nos últimos 50 anos devido à falta de ações mais eficazes no sentido de educar a população para evitar o aumento do único transmissor da doença, o mosquito flebotomíneo Lutzomyia longipalpis, popularmente conhecido como mosquito-palha, asa-branca ou pula-pula.Com isso, tem aumentado também o número de óbitos de seres humanos pela doença em Alagoas.
Este ano, a leishmaniose já matou mais que a dengue no Estado, e em outros anos, quando não houve epidemia, os números ficaram sempre aproximados. “Informações técnicas mostram que a medida [eutanásia] tem se mostrado ineficaz por não centrar o controle no mosquito vetor. A política brasileira caminha na tentativa de eliminar a doença através de um dos reservatórios, que é o cão. A própria Organização Mundial de Saúde confirma que essa medida tem sido ineficaz”, disse Ciampi.
A indagação “matar ou tratar” adentra no aspecto ético da saúde e, com mais frequência, os órgãos em defesa dos animais têm cobrado soluções que não envolvam a eutanásia de cães para problemas desse tipo. Apesar das reivindicações dos ativistas, o Governo ainda se mostra indisposto a investir no tratamento da leishmaniose em animais.
“O Brasil é o único país que extermina o cão como medida de controle. Países como Espanha, França e Itália, além de exercerem o controle do mosquito, permitem o tratamento do animal sem nenhum problema. A Espanha, inclusive, fornece os medicamentos para que o animal seja tratado”, comentou o presidente da Arca Brasil.
Desde 2008, uma portaria interministerial impede o tratamento de cães infectados no Brasil. Porém, segundo a ONG, no início deste ano, o Superior Tribunal de Justiça da 3ª Região tornou ilegal a portaria por ter entendido que a atitude coíbe o veterinário de exercer sua profissão.
No Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais, donos de animais que entraram na justiça pelo direito de tratar seus cães ganharam a ação. Em Alagoas o caso ainda é tratado de acordo com a portaria.
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