Dengue põe a Copa do Mundo no Brasil na marca do pênalti

02 dezembro, 2013

Epidemiologista dos Estados Unidos sugere, na revista Nature, que o Brasil alerte os estrangeiros que virão ao Mundial sobre os perigos da doença tropical. Segundo o governo, os visitantes não correrão risco. No período do torneio, a taxa de infecção é menor











Com a definição, na próxima sexta-feira, das seleções que integrarão cada grupo do Mundial de 2014, torcedores de todas as partes do globo começarão a organizar a visita ao Brasil, que deverá receber 600 mil turistas estrangeiros entre junho e julho. Nesse período, os casos de dengue diminuem significativamente em relação ao verão, mas um artigo publicado na revista Nature sugere que, além do calendário dos jogos, os viajantes internacionais devem ter, na ponta da língua, informações sobre a doença. O Ministério da Saúde garante, contudo, que não há motivo de preocupação.

Especialista em epidemiologia de doenças tropicais da Universidade de Oxford, o zootecnólogo Simon Hay defende que a Fifa, o governo brasileiro e os patrocinadores da Copa precisam alertar os turistas sobre a circulação, no Brasil, do Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue. “Assim como o tempo, é impossível prever a situação precisa em relação à dengue no Brasil em 2014. Nós podemos, contudo, informar os visitantes com base na média de dados dos anos anteriores”, alega Hay.

Números do Ministério da Saúde mostram que o pico de infecções ocorre do fim do verão ao início de junho, quando as notificações de casos começam a baixar. Mas eles não desaparecem. De acordo com o Levantamento Rápido do Índice por Aedes aegypti (LIRAa), divulgado há duas semanas, até 8 de novembro, 525 municípios abrangidos pela sondagem estavam em situação de alerta e 157, em risco. Outros 633 foram considerados satisfatórios. Seis capitais não apresentaram os dados para o ministério: Florianópolis, Belém, Maceió, Recife, Natal e São Paulo, sendo que as três últimas sediarão o Mundial. Das demais cidades que receberão jogos, Manaus, Rio de Janeiro e Salvador encontram-se, hoje, em situação de alerta.

“Nas áreas ao redor de nove dos estádios da Copa do Mundo, os registros mostram que a principal temporada de dengue já terá passado antes do campeonato. Infelizmente, o risco continua alto durante esses meses no Nordeste”, ressalta Simon Hay. O cientista inglês recomenda ainda que “as autoridades brasileiras devem implementar um controle de vetor agressivo em abril e maio, particularmente perto dos estádios do norte, para diminuir o número de mosquitos transmissores da dengue”, citando o fumacê como uma estratégia de combate.

O Secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa, afirma que as alegações do zootecnólogo não procedem. “Acho que esse pesquisador desconhece que o Brasil tem um programa permanente de controle da dengue”, afirma. Com objetivo de reduzir a infestação pelo Aedes aegypti, a incidência da dengue e a letalidade por febre hemorrágica, o Programa Nacional de Controle da Dengue foi instituído em 2002. Além disso, Barbosa afirma que, nos meses da Copa, as cidades nordestinas não apresentam risco maior, ao contrário do que disse Simon Hay. Considera-se situação de risco um município que registra mais de 300 casos em cada 100 mil habitantes. Entre junho e julho, a média de Fortaleza é de 10 por 100 mil; a de Salvador é 5,6 e a de Natal, 23,5.

Jarbas Barbosa lembra que, neste ano, foram feitas campanhas informativas sobre a saúde do viajante, incluindo dicas sobre a dengue, por ocasião da Copa das Confederações e da visita do papa durante a Jornada Mundial da Juventude. De acordo com ele, a partir de janeiro, a iniciativa será retomada com cartazes e panfletos em aeroportos e hotéis, além da divulgação do site Portal do Viajante, que tem versões em português, inglês e espanhol. “Vamos divulgar informações importantes, como a necessidade de vacina contra a febre amarela e a influenza, cuidados com a malária, com a água, com a comida de rua etc.”, diz Barbosa.

"Não quero dissuadir ninguém de ir à Copa do Mundo nem discriminar o Brasil, que é apenas mais um dos mais de 100 países ao redor do mundo na batalha contra a dengue. Minha intenção é informar espectadores desavisados sobre os riscos e como eles podem se proteger” - Simon Hay, especialista em epidemiologia de doenças tropicais da Universidade de Oxford

"Acho que esse pesquisador desconhece que o Brasil tem um programa permanente de controle da dengue (…) Vamos divulgar informações importantes, como a necessidade de vacina contra a febre amarela e a influenza, cuidados com a malária, com a água, com a comida de rua etc." - Jarbas Barbosa, secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde


Mão dupla
“Não quero dissuadir ninguém de ir à Copa do Mundo nem discriminar o Brasil, que é apenas mais um dos mais de 100 países ao redor do mundo na batalha contra a dengue”, afirma Simon Hay, autor do artigo publicado na Nature. “Minha intenção é informar espectadores desavisados sobre os riscos e como eles podem se proteger”, alega o zootecnólogo.

A médica Isabella Ballalai, presidente da regional do Rio de Janeiro da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), lembra que, embora seja importante alertar os estrangeiros sobre riscos em viagens ao Brasil, também é preciso que os visitantes internacionais tomem medidas antes de embarcar para não trazerem doenças. De acordo com ela, os casos de sarampo registrados no país, por exemplo, devem-se principalmente à entrada no Brasil de pessoas infectadas na nação de origem. Da mesma forma, como os brasileiros viajam cada vez mais para o exterior, Ballalai explica que é preciso tomar cuidados para que, na volta, não se carreguem na bagagem vírus contraídos em outros países.

Nesta quarta-feira, a SBIm lançou um guia bilíngue e gratuito com orientações de saúde para os viajantes. Isabella Ballalai explica que a Copa do Mundo foi um dos eventos que inspiraram a confecção do livro. A médica alerta que, das doenças infecciosas, os turistas precisam tomar cuidado com hepatites, malária (no caso de ecoturismo na Região Norte) e doenças sexualmente transmissíveis.

“Não que haja maior risco no Brasil”, explica, em relação às DSTs. “Mas toda viagem, independentemente do destino, é de risco: pesquisas mostram que 60% dos turistas que não têm intenção de fazer sexo acabam fazendo”, explica. Dentro e fora do país, contudo, o mal que mais afeta turistas é a diarreia. “O viajante se expõe mais, se cuida menos, come na rua, em barracas. Essa é a causa mais comum de doença nos turistas.” 

Problema mundial

Uma pesquisa publicada em abril, também na Nature, indica que os cuidados redobrados com a dengue devem ser uma preocupação constante em todo o mundo. A partir de dados sobre a doença divulgados por vários países afetados por ela, um grupo internacional de pesquisadores criou um modelo computacional para estimar o número de pessoas infectadas. Os resultados indicaram que o número de vítimas é mais de três vezes maior do que o estimado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

De acordo com a pesquisa, por ano, 96 milhões de pessoas apresentam sintomas claros da dengue e 300 milhões podem pegar a doença mesmo sem ter o diagnóstico confirmado por médicos. A soma das estimativas, 396 milhões, é bem maior que os 100 milhões calculados pela OMS. O levantamento indicou ainda que a Ásia abriga a maior parte dos atingidos pela dengue — cerca de 70% dos casos. Em seguida, com 14%, vem o continente americano, principalmente no México e no Brasil.

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