Mosquito da Dengue está dentro de casa?

10 julho, 2011

Este ano, até o dia 11 de junho, foram notificados 18.517 casos de dengue distribuídos em 178 municípios, representando uma redução de 42,46% em relação ao mesmo período de 2010, que notificou 32.184 casos, confirmando 15.094.

Para ele, é importante que os órgãos públicos não baixem a guarda com os resultados. Otoniel ressalta, porém, que o larvicida diflubenzuron não é a única arma para acabar com a dengue. Informar a população sobre os métodos para inibir a proliferação do mosquito é fundamental. “O aedes aegypti é preguiçoso, gosta de água limpa e dentro das residências encontra um bom ambiente para reproduzir, pois tem sombra e sangue humano para se alimentar. Então, o cuidado dentro das residências deve ser redobrado”, alerta.
O médico infectologista do Hospital Oswaldo Cruz Vicente Vaz atende pacientes de dengue há mais de 20 anos. Ele vê com cautela os números apresentados, pois constata que o número de pacientes com dengue hemorrágica atendidos no hospital elevou-se em aproximadamente 100% no HUOC, instituição considerada de referência em tratamentos de dengue no Estado.
O médico diz que a dengue é uma doença reemergente e as epidemias são causadas pela facilidade de deslocamento provocada pela mobilidade, assim como outras doenças. “Atualmente, estão sendo registrados casos de sarampo na Europa, enquanto no Brasil essa doença não existe mais, tudo porque foi feito um controle.”
No Oswaldo Cruz, Vicente Vaz diz que a equipe atende cerca de 100 casos por mês, todos de dengue complicada. “Os casos de dengue hemorrágica dobraram, elevaram-se 100% em um ano. Mas a dengue hemorrágica não acontece frequentemente, é rara.”
A pesquisadora Lêda Régis, da Fiocruz, lembra que a instituição desenvolveu um sistema de monitoramento e controle populacional do mosquito em que são utilizadas armadilhas para capturar ovos em residências e, após um tempo, é feita a contagem desses ovos, assistida por computador. As informações são transferidas para um banco de dados geográficos e, assim, é possível gerar relatórios. Pode-se, por exemplo, analisar a evolução temporal dos ovos de acordo com o regime de chuvas e comparar os resultados dos bairros. “O sistema identifica os momentos mais críticos e os locais prioritários para intervenção, permitindo o planejamento de ações”, declara Leda.
A pesquisadora defende ações mais intensas na área de comunicação para informar as pessoas sobre como evitar a picada do mosquito, pois o aedes aegypti só transmite o vírus quando pica uma pessoa já infectada. ”O ideal seria isolar as pessoas que estão na fase viral, pois todas têm o vírus se multiplicando na corrente sanguínea. Do ponto de vista prático, numa metrópole, isso não é factível. Não se pode colocar as pessoas em isolamento. Mas essa orientação tem sido negligenciada. As pessoas têm que saber que, quando infectadas, cada pessoa nesta situação é uma fonte de infecção e precisa se proteger para não contribuir para a infecção das outras”, aponta.
Lêda Régis explica que ao ser picada pelo mosquito a vítima entra em fase de viremia e, quando apresenta febre é exatamente no momento em que o vírus está se multiplicando. Nesta fase é preciso ficar numa cama protegida por mosquiteiro, porque isso vai evitar que as demais componentes da família também contraiam o vírus, pois basta o mosquito picar a pessoa infectada e, em seguida, picar outra pessoa para transmitir o vírus . Ela diz que muitas pessoas não sabem dessa informação, que é óbvia. Lembra que se fosse possível proteger todas as pessoas na fase de viremia o número de casos de dengue seria bem menor. “Impossível fazer o cálculo de redução, mas, vejamos, se na cidade do Recife houver o primeiro caso de dengue e esta pessoa for isolada a doença não vai proliferar. A fêmea se alimenta dia sim, dia não e cada vez que ela se alimenta pode infectar duas, três, quatro pessoas. Então, uma fêmea é capaz de inocular vírus numa quantidade de até dez pessoas. Ela fica de 45 a 55 dias viva.”
Segundo ela, a rede pública gasta cerca de R$ 1,3 bilhão de reais por ano com a dengue. O programa custa aos cofres da nação um valor muito alto, fora os planos de saúde privada que gastam com seus segurados. Grande parte desse custo representa a compra de inseticida para aplicar nas águas.
“Qualquer biólogo que conhece bem a biologia do inseto vai dizer que é impossível controlar a população do mosquito com inseticida. Uma fêmea de aedes deposita os seus ovos em todo canto, impossível tratar todos esses recipientes. O que se faz é tratar uma parcela pequena desses recipientes, pois o inseto tem um ciclo biológico muito rápido”, avalia. Ela observa também que a exposição de pessoas por longo tempo ao larvicida causa problemas de saúde.
“Para ser bem curta, por exemplo, as pessoas que aplicam esses produtos precisam ser periodicamente examinadas para checar os danos que são causados. É obrigatório, por lei, e se é assim é porque se trata de algo perigoso.” Ressalta que, por outro lado, as populações de aedes aegypti estão resistentes a esses produtos usados por mais de uma década. E o estado gasta para monitorar essa resistência. “A resistência mostra que o inseto não morre com esse produto. Então é urgente que se utilize inteligência nas ações de controle do mosquito. Também é preciso modernizar a campanha de informações para que as pessoas conheçam a biologia do inseto, em vez de emitir ordens, tampe isso, tampe aquilo.”
Na Prefeitura do Recife, alguns funcionários que atuam na aplicação do larvicida foram submetidos a exames que apontaram alterações no sangue. Otoniel Barros explica que os casos estão sendo investigados para se verificar se a alteração foi provocada pelo uso do Diflubenzuron.
Outra recomendação importante da pesquisadora é quanto ao risco que se corre nos próprios hospitais que atendem pessoas infectadas pelo vírus. Ela lembra que os pacientes em atendimento precisam ficar protegidos para não serem picados pelo aedes aegypti que pode estar habitando a área interna das unidades hospitalares. “Essa proteção otimiza o uso de recursos, não adianta sair por aí espalhando o veneno. Essa ação não só não resolve, como permitiu que chegássemos a esse ponto. Há muito que se fazer, é preciso que as pessoas tenham um conhecimento básico para se cuidar e evitar a picada do mosquito, também é preciso ter cuidado com o uso de repelentes, atenção à bula para não se intoxicar”, orienta a pesquisadora.
Para Vicente Vaz, o que dificulta a realização do diagnóstico é que dengue apresenta sintomas muito parecidos com os de outras doenças. O controle do vetor, aponta, é o caminho mais adequado para reduzir o índice de pessoas infectadas. Observa que para isso é preciso um trabalho em conjunto, coordenado. “Não adianta o Recife fazer o controle sem que Jaboatão e Olinda, cidades vizinhas, também o façam com a mesma eficácia.” O infectologista alerta para o relaxamento das ações quando os índices aparecem com números reduzidos. “O que nós observamos é que há vitórias, empates e derrotas nessa guerra, pois toda vez que o número de casos é reduzido num ano, no outro aumenta porque há um relaxamento. O problema é a descontinuidade dos programas de controle.”
Neste semestre a Secretária de Saúde do Estado adquiriu equipamentos para controle químico do vetor, instalação de ovitrampas (armadilhas especiais para coleta de ovos do mosquito) em prédios públicos e pontos estratégicos de alta circulação de pessoas.
Também foram contratados 500 agentes de controle de endemias para auxiliar o trabalho dos agentes dos 61 municípios prioritários. O investimento estimado na ação é de R$ 5 milhões.
Apostando na arma da comunicação, a secretaria também providenciou a confecção de folders, cartazes e jingles/spots para alertar a população que o controle da doença deve começar dentro de casa. Todo o material explica as formas de prevenção da doença, os sintomas e diferenças entre as formas clássica e hemorrágica.

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