Estudo sugere que algumas pessoas que não pegaram COVID-19 podem ter anticorpos contra o vírus

25 novembro, 2020

 Um novo estudo sugere que uma pequena porção da população carrega anticorpos contra o coronavírus mesmo sem ter sido infectada. Eles teriam sido criados durante contatos anteriores com vírus relacionados que causam o resfriado comum.


Um pUm profissional de saúde em Washington D.C. segurando
 uma amostra de sangue coletada para teste de anticorpos para o
SARS-CoV-2. Foto: Win McNamee (Getty Images)

A pesquisa é a mais recente a indicar que algumas pessoas podem ter um certo grau de imunidade preexistente ao coronavírus. Mas embora seja possível que essas descobertas ajudem a explicar algumas tendências da pandemia, como o fato de crianças serem menos vulneráveis ​​a sintomas graves, ainda não está claro o quão protetora essa imunidade emprestada poderia realmente ser.

O novo estudo, publicado na Science na sexta-feira (6), testou amostras de sangue coletadas de adultos e crianças no Reino Unido em dezembro de 2019, antes do início conhecido da pandemia, bem como de pessoas que tiveram resultados negativos para SARS-CoV-2, o coronavírus responsável pelo COVID-19, no início da pandemia. Essas amostras foram comparadas com as de pessoas que testaram positivo para a doença.

Como esperado, a maioria dos casos confirmados tinha um grupo diversificado de anticorpos preparados para responder à proteína spike do vírus, usada pelo vírus para infectar células. Eles vieram de todos os três tipos de anticorpos que combatem infecções virais (IgG, IgM, IgA).

Mas em alguns pacientes não infectados, incluindo aqueles que tiveram uma infecção recente por um dos coronavírus de resfriado comum, os pesquisadores também encontraram anticorpos que pareciam reagir ao SARS-CoV-2. “Nossos resultados de vários ensaios independentes demonstraram a presença de anticorpos preexistentes que reconhecem o SARS-CoV-2 em indivíduos não infectados”, escreveram os cientistas.

Os anticorpos encontrados nas pessoas não infectadas eram claramente distintos daqueles em pacientes com COVID-19. Eram quase todos IgG, o anticorpo mais comum produzido pelo sistema imunológico. Eles também foram encontrados apenas em uma pequena porcentagem de adultos. Em amostras de 302 adultos, apenas 16 (5,26%) eram portadores desses anticorpos. No entanto, esse número era diferente no caso de crianças: os pesquisadores encontraram esses anticorpos em 21 das 48 amostras (44%) coletadas de crianças entre 1 e 16 anos.

Os autores especulam que os níveis mais elevados de anticorpos de reação cruzada observados em crianças podem ajudar a explicar por que elas parecem menos propensas a contrair COVID-19 do que a população em geral, ou por que geralmente apresentam sintomas muito menos graves. As crianças adoecem com resfriados leves o tempo todo, e eles encontraram evidências de que infecções recentes mais frequentes por outros coronavírus poderiam explicar os níveis mais elevados de anticorpos em crianças.

O estudo é aparentemente o primeiro a descobrir esses anticorpos com reatividade cruzada em pessoas. No entanto, outras pesquisas mostraram que algumas pessoas também carregam células T — outra parte crucial do sistema imunológico — emprestadas de infecções anteriores de resfriado comum que podem responder ao SARS-CoV-2. Juntos, esses estudos indicam que algumas pessoas realmente podem ter uma resposta imune preexistente ao COVID-19. Mas há razões para ser cauteloso na interpretação dos resultados.

“Ainda não sabemos nada sobre proteção, apesar de vários grupos apresentarem reatividade cruzada. A epidemiologia mostra que é improvável que a reatividade cruzada previna a infecção ou disseminação — na melhor das hipóteses, pode alterar os sintomas”, disse Kevin Ng, autor principal do estudo, doutorando e pesquisador de vírus no Instituto Francis Crick em Londres.

Há quem argumente que os estudos com células T mostram que muitas pessoas no mundo já estão protegidas da pandemia. Muitas vezes, essas pesquisas são usadas para justificar uma postura contra ações agressivas para impedir a propagação da doença viral. No entanto, os cientistas por trás da pesquisa falaram abertamente sobre essas afirmações.

Eles notaram que ainda há muita incerteza sobre como essas células T reativas cruzadas podem impactar a resposta de uma pessoa à infecção e que é improvável que essas células impeçam significativamente uma pessoa de pegar ou espalhar COVID-19 para outras pessoas. Em outras palavras, essas células T não vão nos levar à chamada imunidade de rebanho mais rápido.

Outro motivo para ser cauteloso: também é possível que ter anticorpos com reatividade cruzada possa, na verdade, aumentar o risco de doenças mais graves em alguns casos, algo que se sabe ter acontecido com o vírus SARS original.

De qualquer forma, será necessário fazer mais pesquisas para ter certeza de alguma coisa. Além de ajudar a explicar por que certos grupos de pessoas podem ser menos vulneráveis ​​ao COVID-19 de alguma forma, os pesquisadores especulam que entender os meandros dessa imunidade emprestada poderia um dia levar a melhores vacinas contra os coronavírus atuais e futuros.

“Estamos trabalhando agora para descobrir por que algumas pessoas produzem anticorpos com reatividade cruzada e outras não”, disse Ng. “Se pudermos descobrir isso, podemos usar essa informação em vacinas para estimular uma resposta imunológica que teoricamente visaria todos os coronavírus.”

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