Quando a dor de cabeça fica insuportável e a dor no corpo impede qualquer movimento, a dúvida começa: doentes e médicos ficam sem saber se o caso é um exemplo da temida dengue ou apenas uma virose sem gravidade.
Normalmente, é preciso esperar até o quinto dia dos sintomas para que um teste detecte se o paciente foi infectado pelo Aedes aegypti. A demora no diagnóstico preciso, porém, pode estar com os dias contados. A Fiocruz está tentando importar tecnologia da Coreia do Sul para passar a fabricar no Rio os kits do “duo teste”, capaz de identificar a dengue nas primeiras horas e, ao mesmo tempo, determinar se o paciente já teve a doença anteriormente.O assunto do teste é tratado com sigilo na instituição. Mas um dos seus funcionários confirmou que os testes feitos com o kit foram bem-sucedidos e que é preciso apenas o aval do Ministério da Saúde, para que ocorra a negociação para a transferência de tecnologia e a posterior produção. Pelos cálculos da Fiocruz, cada exame, que precisa apenas de umas gotas de sangue e alguns minutos para ficar pronto, custaria cerca de US$ 6 (R$ 9,9). Pesquisadores foram à Coreia do Sul no ano passado para conhecer o método e voltaram encantados. Enquanto isso, o Estado do Rio já tem dez municípios com epidemia de dengue, três a mais do que na semana passada – entraram na lista de cidades com muitos casos da doença Cabo Frio, Silva Jardim e Cordeiro .
- O teste tem uma boa eficácia, faria toda a diferença. É para uso ambulatorial, indiscriminado – diz um dos funcionários da Fiocruz.
Oficialmente, a BioManguinhos, o órgão da Fiocruz que produz kits, confirma que houve a viagem e há interesse na produção do teste. No entanto, diz que toda a negociação fica a cargo do Ministério da Saúde, que, por sua vez, informou apenas que o órgão tem interesse em que sejam ofertados pelo mercado produtos de qualidade e com baixo custo. Segundo a assessoria de imprensa do ministério, caso o processo de fabricação pela Fiocruz atenda a esses atributos, obviamente passa a ser interessante.
Enquanto a produção nacional não decola, um exame semelhante, capaz de detectar o antígeno NS1, que identifica a dengue, tem sido usado com parcimônia no Rio, tanto na rede estadual quanto na particular. O estado, por exemplo, comprou 20.500 unidades e pagou, no pregão eletrônico, R$ 41 cada uma. Segundo Alexandre Chieppe, mais da metade dos kits, distribuídos aos municípios, já foi usada.
- Eles são recomendados em casos graves, de grande dúvida diagnóstica. Se forem usados de forma indiscriminada, podem dar um falso-negativo. E aí como se faz? Não se trata o paciente como se ele tivesse dengue porque o teste deu negativo? Qualquer paciente com dor no corpo e febre tem que ser tratado como se estivesse com essa doença – diz Chieppe. – Se o médico não suspeitar de dengue, será que vai aplicar o teste?
Na rede particular, o laboratório Richet foi um dos primeiros a importar os kits. O exame que detecta a dengue nas primeiras horas após a picada do mosquito custa cerca de cem reais.
- Já realizamos cerca de 500 exames este ano. Ele é muito útil, particularmente em crianças que não sabem relatar o que sentem – diz Hélio Magarinos, diretor do laboratório.
Na rede D’Or, o exame está disponível desde a semana passada, mas há critérios para a utilização: ele é usado em gestantes e idosos, pacientes com sintomas de agravamento da doença, crianças com alguma doença crônica (como asma) e doentes imunodeprimidos (com Aids e câncer, entre outras enfermidades).
Fonte: Globo
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