A dengue é a doença do século devido à sua ampla distribuição e, mesmo assim, está sendo negligenciada, alertou na terça-feira (14) o coordenador de gestão e ecologia do vetor da Organização Mundial da Saúde (OMS), Raman Velayudhan, durante o 1º Workshop Internacional Asiático-Latino-Americano sobre Diagnóstico, Manejo Clínico e Vigilância da Dengue, que acontece em Brasília até quinta-feira (16).
“Essencialmente, é a doença do século, com uma distribuição muito incerta. À medida que a malária está diminuindo, a dengue está crescendo. Um mosquito substituiu o outro”, alertou o especialista.
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Falta de saneamento contribui para disseminação da dengue, alertam especialistas. Foto: EBC |
A dengue é a doença do século devido à sua ampla distribuição e, mesmo assim, está sendo negligenciada, alertou na terça-feira (14) o coordenador de gestão e ecologia do vetor da Organização Mundial da Saúde (OMS), Raman Velayudhan, durante o 1º Workshop Internacional Asiático-Latino-Americano sobre Diagnóstico, Manejo Clínico e Vigilância da Dengue, que acontece em Brasília até quinta-feira (16).
“Essencialmente, é a doença do século, com uma distribuição muito incerta. À medida que a malária está diminuindo, a dengue está crescendo. Um mosquito substituiu o outro”, alertou o especialista.
Velayudhan identifica a dengue como uma doença dinâmica e, ao mesmo tempo, negligenciada. “Esses vetores já transmitem quatro enfermidades. A dengue é a maior ameaça, devido às mudanças climáticas e ambientais e à fácil adaptação dos vetores (Aedes aegypti e Aedes albopictus)”, pontuou.
“Esses mosquitos têm a capacidade de armazenar ovos em muitos lugares diferentes. Como conseguiremos eliminar todos? Em larga escala, será um desafio praticamente impossível. Por isso, temos que trazer a população para um nível em que isso aconteça.”
O especialista ressaltou também que, com a redução dos casos de dengue, as pessoas tendem a “ter menos medo” de serem infectadas, o que é prejudicial para o combate aos vetores. Dessa forma, torna-se imprescindível que os governos passem mensagens-chave para a comunidade, alertou.
Velayudhan citou casos de comunicação bem-sucedidos realizados em Laos e nas Filipinas e lembrou que a OMS tem trabalhado em uma série de ferramentas e novas tecnologias para ajudar diversos países no controle de vetores.
Os primeiros registros de dengue na América Latina remetem há 400 anos, segundo José Luís San Martín, assessor regional da OPAS/OMS para o controle da dengue. “As Américas são um continente com um longo histórico de circulação do vírus. Na década de 1980, houve uma estabilização, mas esse ciclo foi interrompido nos últimos quatro anos com a entrada do chikungunya e do vírus zika”, declarou. Deste então, áreas que não notificavam transmissão passaram a reportar casos.
Realizado pela Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) em parceria com o Ministério da Saúde e o Programa de Cooperação de Singapura, o evento tem como objetivo fortalecer as capacidades técnicas dos participantes de países das Américas e da Ásia sobre a doença — considerada a infecção viral transmitida por mosquitos com a maior disseminação no mundo.
Vinte e um países participam do workshop: Brasil, Barbados, Colômbia, Costa Rica, Cuba, República Dominicana, El Salvador, Guiana Francesa, Índia, Jamaica, Malásia, México, Nicarágua, Paraguai, Peru, Filipinas, Porto Rico, Singapura, Tailândia, Venezuela e Vietnã.
De acordo com Luis Castellanos, chefe da Unidade de Doenças Infecciosas Negligenciadas, Tropicais e Transmitidas por Vetores da OPAS/OMS, a agência da ONU está focada em populações que vivem em situação de vulnerabilidade e de extrema pobreza na região das Américas.
“A dengue é um problema de gerações, que nos desafia cada vez mais. Temos que ser mais fortes que esse vetor e essa doença”, alertou. Ele considera o encontro entre países latino-americanos e asiáticos uma iniciativa enriquecedora em termos de saúde pública. “Temos que compartilhar as melhores práticas de nossos países acumuladas ao longo do tempo”.
Desafios do Brasil e Singapura
O coordenador-geral dos Programas Nacionais de Controle e Prevenção da Malária e das Doenças Transmitidas pelo Aedes do Ministério da Saúde, Divino Martins, explicou a situação vivida pelo Brasil nos últimos anos.
“Estamos passando por momentos conturbados, principalmente por conta da capacidade etimológica do Aedes para novas arboviroses.” Uma das preocupações expostas por ele é em relação à infestação do Aedes, que já está presente em até 80% dos municípios brasileiros.
“Temos a circulação simultânea dos três arbovírus (dengue, chikungunya e zika). A similaridade entre eles traz um conjunto de dúvidas do ponto de vista clinico e laboratorial, por haver muitas vezes resultados cruzados”.
Martins considera essencial ter em mente os fatores que contribuem para a expansão das arboviroses, o que pode ajudar a “entender o quão complexo é realizar o controle vetorial de uma forma mais holística”.
Segundo o coordenador, questões como o saneamento básico, o desordenamento urbano, a densidade populacional em áreas urbanas, as irregularidades no abastecimento de água e o lixo doméstico, responsável por 80% dos focos de mosquitos transmissores, são importantes para auxiliar nesse entendimento. “É necessário repensar uma política. Várias medidas são necessárias para o combate à dengue”, complementou.
Chin Siew Fei, ministra-conselheira da Embaixada da República de Singapura em Brasília, falou sobre como seu país tem enfrentado o principal transmissor da dengue, o Aedes. “Estamos tentando novos métodos de controle de vetores, como a infecção de mosquitos com a bactéria Wolbachia, o que pode limitar os níveis de transmissão”, revelou. “Não hesitaremos em compartilhar tudo o que aprendermos com vocês. Esperamos que a troca de ideias e informações beneficie todos os países.”
Ng Lee Ching, diretora do Instituto de Saúde Ambiental da Agência Nacional do Meio Ambiente de Singapura, alega que um dos problemas que desafiam as autoridades de saúde do país é a mudança na faixa etária de pessoas infectadas, antes composta principalmente por crianças.
“Hoje há mais adultos infectados e isso nos leva a uma preocupação com a segurança dos bancos de sangue. Temos alguns casos (assintomáticos) de transmissão de dengue por transplante de órgãos e transfusão”, ponderou.