A engenharia genética produziu mosquitos Aedes aegypti capazes de suprimir populações naturais do transmissor da dengue. A invenção mereceu um artigo na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) e é considerada arma promissora contra uma doença que atinge, ao menos, 50 milhões de pessoas por ano.
Os insetos transgênicos carregam um gene que impede as fêmeas de voar quando atingem a idade adulta (mais informações nesta página). Elas têm dificuldade para sair da água, não conseguem se reproduzir e se alimentar de sangue. Assim, morrem sem deixar descendentes ou transmitir a doença.
Os machos podem voar normalmente. O que não acarreta problema, pois eles se alimentam apenas de néctar e sucos vegetais. São incapazes de transmitir o vírus. Além disso, ao chegar à fase adulta, os machos transgênicos cruzam com as fêmeas presentes no ambiente e conferem à sua descendência o gene que impede as fêmeas de voar, diminuindo a população dos mosquitos.
"A ideia não é nova", explica Osvaldo Marinotti, cientista brasileiro da Universidade da Califórnia em Irvine (UCI), que assina o artigo. "Algo semelhante já é usado contra insetos na agricultura há muito tempo." Normalmente, as pragas são esterilizadas com o uso de radioatividade e, depois, liberadas na plantação. No artigo da PNAS, os pesquisadores substituíram a irradiação por engenharia genética, técnica mais barata e que não diminui o desempenho reprodutivo dos mosquitos.
A estratégia possui também vantagens ecológicas, pois diminui o uso de inseticidas que costumam afetar outras espécies e prejudicam o ambiente.
Na semana passada, o Ministério da Saúde informou que em algumas regiões foi detectada resistência do mosquito a larvicidas e inseticidas. "O veneno é barato a curto prazo, mas com o tempo o Aedes ganha resistência e a solução encarece", aponta Roberto Thomé, pesquisador do CEFET-RJ e especialista em matemática aplicada à epidemiologia. "O uso de mosquitos transgênicos e estéreis é a abordagem do futuro."
A empresa britânica Oxitec e a Universidade Oxford detêm patentes sobre a técnica dos mosquitos transgênicos. Anthony James, também da UCI, acredita que, no melhor cenário, será possível disponibilizar um produto nos próximos dois anos. No artigo, os cientistas propõem a produção de ovos de mosquitos transgênicos, pois podem ser facilmente armazenados e transportados.
Dois laboratórios da USP, coordenados pelos pesquisadores Margareth Capurro-Guimarães e Mauro Marrelli, estabeleceram parceria com a Oxitec e já contam com cepas do mosquito transgênico para testar em populações brasileiras do Aedes. Margareth já efetuou ensaios dentro do laboratório e obteve bons resultados.
Agora, os pesquisadores querem iniciar os trâmites na Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) para realizar testes de campo. "A técnica deve ser usada com outras abordagens, mas ajudará muito no combate ao mosquito", diz Margareth.
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